A luxação congénita da anca é uma malformação bastante frequente que, caso
seja detetada prematuramente, pode ser eficazmente solucionada através de um
simples tratamento ortopédico, o qual previne o aparecimento de problemas
secundários.
Causas
A anca corresponde à articulação coxofemoral, na qual a cabeça do fémur, de
forma esférica, encaixa na cavidade cotiloide do osso ilíaco. Existem vários
elementos, como a cápsula articular, alguns ligamentos e particularmente uma
orla óssea que rodeia a cavidade, o debrum cotiloide, que sustentam a
articulação e que, em condições normais, evitam que os segmentos ósseos percam
a sua união, impedindo que a cabeça do fémur se desloque para cima.
A luxação congénita da anca é provocada, precisamente, por uma anomalia
nesses elementos de sustentação, já que a sua insuficiência provoca o
deslocamento da cabeça do fémur para uma posição mais ou menos afastada da
cavidade cotiloide.
A doença pode ser originada por vários fatores, visto que é possível que o
feto não tenha espaço suficiente para se mover livremente no interior do útero,
devido à presença de uma escassa quantidade de líquido amniótico, que o
desenvolvimento embrionário seja perturbado por algum problema que prejudique a
formação dos elementos que compõem a anca ou que a cápsula e os ligamentos da
articulação se apresentem excessivamente deteriorados.
Embora a causa destes fatores ainda seja desconhecida, em alguns casos é
percetível a presença de um componente hereditário no desenvolvimento do
problema, tendo em conta que a sua incidência é muito mais elevada em algumas
famílias do que na população em geral. Para além disso, a luxação pode ser
provocada por eventuais problemas consequentes do trabalho de parto,
nomeadamente do parto de apresentação pélvica, ou seja, caso o bebé nasça de
nádegas.
Em alguns casos, o bebé já se encontra, no momento do nascimento, afetado
por uma luxação da anca, que tanto pode ser provocada por uma subluxação,
quando a cabeça do fémur se encontra ligeiramente unida à cavidade cotiloide,
como por uma luxação completa, quando a cabeça do fémur se encontra totalmente
separada da mesma. Contudo, a consequência mais comum é a existência de apenas
uma malformação característica, nomeadamente um alisamento da cavidade e um
insuficiente desenvolvimento do debrum cotiloide, que apenas permite a
deslocação da cabeça do fémur para cima, quando o bebé começa a andar.
Em qualquer dos casos, o defeito é muito mais evidente quando o bebé se
levanta e caminha, na medida em que o peso do corpo sobre a anca favorece a
deslocação da cabeça do fémur. Este deslocamento pode ser mais ou menos
acentuado, conforme o caso, e por vezes apenas para quando algum elemento
anatómico (por exemplo, um desnível do osso ilíaco) impede o seu
desenvolvimento. A cabeça do fémur penetra na superfície do osso ilíaco, de
modo a proporcionar uma união definitiva e para que os elementos anatómicos
vizinhos, como os músculos, tendões e vasos sanguíneos, se adaptem a esta
situação atípica, o que torna o defeito permanente.
Os sinais e sintomas dependem do momento da evolução. Ao longo dos
primeiros meses de vida, a malformação torna-se evidente quando o médico
realiza determinadas manobras com vista a detetá-la, embora por vezes seja
percetível uma tumefação da zona devido à união anómala da cabeça do fémur ou
ao observar que o bebé sofre de dores quando move as pernas para se vestir ou
calçar. Em muitos casos, o problema pode ser detetado devido a um atraso do
bebé em começar a caminhar, visto que não costuma começar a andar antes dos 18
meses, em caso de luxação unilateral, ou mesmo antes dos 2 anos de vida, quando
é bilateral, o que provoca o desenvolvimento de várias alterações mecânicas.
Caso a luxação seja unilateral, o membro afetado fica um pouco mais curto do
que o outro, o que obriga o bebé a coxear e, caso seja bilateral, o bebé
apresenta coxas mais curtas do que o normal, o que obriga a criança a realizar
movimentos enérgicos com os ombros, braços e tronco para compensar o defeito
articular nas ancas.
Caso não sejam devidamente tratados, os problemas acima citados aumentam de
intensidade com o decorrer do tempo, manifestando-se através de dor na zona das
coxas e nádegas. Embora, inicialmente, a dor apenas se manifeste quando o bebé
caminha ou permanece de pé durante um determinado período de tempo, à medida
que vai evoluindo, vai-se tornando permanente, o que intensifica a dificuldade
dos movimentos. Para além disso, a tentativa de compensar o defeito ao nível
das ancas costuma proporcionar o desenvolvimento de outras malformações
esqueléticas ou desvios laterais da coluna (escoliose), sobretudo quando o
problema é unilateral, ou desvios dos membros inferiores, sobretudo quando é
bilateral.
Diagnóstico precoce
O problema pode ser detetado durante os primeiros meses de vida, antes que
qualquer malformação provoque problemas definitivos, através de manobras muito
simples realizadas pelo pediatra nas consultas regulares. De facto, o exame à
anca consiste na realização de determinadas manobras às pernas do bebé pelo
médico, com o objetivo de aferir se evidenciam uma típica saliência quando a
cabeça do fémur, deslocada da sua situação normal, entra bruscamente na
cavidade articular. A realização de ecografias poderá confirmar o diagnóstico.
Caso o problema não seja detetado ao longo dos primeiros meses, pode-se fazer o
diagnóstico quando o bebé começa a caminhar, quando começa a fazê-lo muito
tarde, ao coxear ou ao ter grandes dificuldades de locomoção. As ecografias
esclarecerão a causa do problema.
Sintomas
Existem vários sinais e sintomas que
sugerem a eventual existência de uma luxação congénita da anca e que necessitam
de uma imediata consulta médica para diagnosticar a sua causa.• O bebé sente algumas dores, quando se movem as suas pernas para o vestir ou calçar.• É percetível uma limitação dos movimentos das pernas, sobre- tudo ao tentar afastá-las do corpo.• É percetível uma saliência ou um estalo sempre que o bebé move a coxa.
• O bebé leva mais tempo do que o normal para começar a andar.• É percetível uma diferença no comprimento das pernas.• Caso o bebé esteja de pé, pode ser mais ou menos percetível uma assimetria das nádegas.• O bebé, para além de coxear, apresenta uma forma de caminhar semelhante à de um pato.
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